ou Saber morrer é uma virtude
Naqueles filmes em que acontece o eterno combate entre o Bem e o Mal, é fácil distinguir bandidos de mocinhos: bandidos são aqueles que, encurralados e à beira da morte, atiram pra todo lado com a intenção de levar com eles o máximo de gente possível, sejam inocentes, inimigos, quem for. Até para confirmar a regra, aponto ‘Butch Cassidy’ como exceção, mas o normal é vermos o bandido, amarfanhado em seu último reduto, pistola vazia numa mão e um detonador na outra que, com um único gesto, mandará pelos ares tudo o que está entre o Cambuci e a Aclimação (dando a volta pelo outro lado do mundo, claro). Do outro lado estão os mocinhos, aqueles que, no instante anterior ao último, metem uma bala na cabeça do bandido, evitando o desastre final e, assim, permitindo que se continue a fazer filmes-merda como esses.
Ao assunto. Fiquei sabendo ontem que o blog Um que tenha, fonte onde bebo raras águas nos últimos tempos, corre o risco de ser tirado do ar por infração à tal Lei do Direito Autoral. Capaz que sim, capaz que não, mas tudo começou quando a gravadora Biscoito Fino (não confundir com Idelber, o Grande) pediu (digamos assim, vá lá) a exclusão dos links que remetiam a obras de artistas que representa. Não vou descer o pau na Biscoito porque ainda (ainda!) respeito a empresa e sua postura dentro desse mercado selvagem. Mas só por isso.
Não é a primeira vez que acontece algo assim. Vide a história de combate aos piratas que o Metallica impetra há tempos, alinhado aos furiosos tubarões da indústria fonográfica americana. Interessante notar que a pseudo-banda, assim como o AC/DC em outras décadas, tem lançado e relançado seu único disco dezenas de vezes, trocando-lhe apenas a capa. Numa análise simplista, é como se pirateassem a si mesmos. E isso, pode, claro, porque ninguém é obrigado a comprar o mesmo disco duas vezes. Compra quem quiser. Chamam a isso de “liberdade”. Ok.
Infelizmente, também não será a última vez que uma gravadora vai soltar — ou ameçar soltar — os cachorros em cima de alguém que esteja infringindo a Lei porque — seja neste ou em outros casos — basta combinar a tal Lei com a vontade de quem manda, e a Luz se fará. Um dia, espero, a Luz virá de uma purgante explosão atômica, que mandará toda essa burrice pro inferno, lugar onde se paga caro pra ouvir porcaria, e onde o autor — como que por vingança das Musas — não recebe um tostão por isso.
Noutro dia, passeando lá mesmo pelo Um que tenha, encontrei o cd que acompanha Timoneiro, livro escrito pelo amigo Alexandre Pavan (maridão da Carol Guindaste) sobre Hermínio Bello de Carvalho. Como eu não sabia da opinião de Pavan sobre o fato, escrevi-lhe informando o encontrado. A resposta de Pavan pode ser resumida em poucas palavras: “Eu sabia, e quero é mais! Quanto mais gente ouvir, melhor“. Sujeito inteligente.
Paulo Coelho, outro sujeito inteligente (alguém ainda duvida?), disse que só se deu bem no mercado russo depois que um de seus livros foi pirateado e distribuído a rodo pela Internet. Agora, com a fama construída gratuitamente, Coelho vende da mesma forma: a rodo. O filme Tropa de Elite é outro exemplo de beneficiado com aquilo que hoje se chama de Pirataria.
Quase dois séculos de implantação da Lei do Direito Autoral (no Brasil, mas em outros países não é muito mais tempo) precisam ser revistos mais uma vez. Aconteceu muita coisa nesse meio tempo. Livros, discos, textos teatrais, fotografias, ilustrações (e sei lá mais o quê), “produtos” que antes eram resultado de processos caros e complexos — detidos por investidores e produtores de cultura, incluindo muitos que mereceriam aspas, mas deixo assim —, podem hoje nem existir fisicamente mas circular por e-mail, sem nenhuma possibilidade de controle por parte de quem insiste em querer controlar alguma coisa.
É preciso perceber, rápida e definitivamente que, nesse meio tempo, a figura do investidor (leia “editor”) deixou de ser necessária. É possível escrever em casa, imprimir em casa, gravar em casa, copiar em casa, produzir e multiplicar em casa, divulgar e vender a partir de casa. É preciso que o artista perceba que não precisa mais se render a um intermediário que o publique, que não é preciso ficar refém de um pretenso poder de distribuição e divulgação, até porque esse poder está acabado ou, no mínimo, acabando. Já disse uma vez aqui, mas repito: Andy Warhol se enganou. No futuro (isto é, hoje), as pessoas não são famosas por quinze minutos, as pessoas só conseguem ser famosas para quinze pessoas. Por que empenhar sua obra e sua alma a um editor que a venderá para quinze pessoas, e só lhe repassará dez por cento? Mas isso é outro assunto.
É fácil perceber que há algo errado com a Lei do Direito Autoral quando se verifica quem a defende: ‘artistas’ fabricados e os megainvestidores por trás deles. Mas antes de sentar para redigir outra, é preciso lembrar que a Lei do Direito Autoral deve proteger o autor, porque hoje ele é o último dos urubus na fila desse banquete: dez por cento do que o investidor DIZ que vendeu, descontados disso e daquilo. E olhe lá.
E enquanto ninguém se resolve a mudar isso, as corporações (nem me refiro aqui à Biscoito Fino, longe disso) vão mexendo seus pauzinhos e derrubando um aqui outro ali, esperneando. Que derrubem muitos, mas antes de cairem todos, cairá também a lei do direito autoral e todos os vampiros que vivem dela. Alguém, por favor, lhes meta logo uma bala (de prata) no coração, em prol da Liberdade.
37 comentários
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outubro 28, 2008 às 5:37 pm
Daniel Brazil
Muito bem! Já deixei meu recado lá no Um Que Tenha, fonte preciosa de muito pesquisador ou amante da música brasileira.
outubro 28, 2008 às 5:52 pm
paulow
Foda-se o biscoito fino. Acho essa atitude igual à do vendedor de carroças que põe pregos para furar os pneus dos carros recém-chegados e provar que seu produto é melhor. Uma ignorância e a prova de que este selo não estará vivo nos próximos 5 anos. Alguém vai comprar o produto do biscoito fino porque não está disponível num site ? Precisa ensinar para eles que é só entrar no google e digitar “nome do artista rapidshare”.
Mais um motivo para nunca mais comprar um cd na vida. Só baixar, sem arrependimentos.
outubro 28, 2008 às 7:12 pm
Charô
Imagino que o sujeito esteja ganhando rios de dinheiro com o blogue que aliás é mui interessante. Tanto dinheiro que incomoda os almofadinhas. Ai, amo muito tudo isso.
outubro 28, 2008 às 7:13 pm
Charô
P.S.: entretanto, lei é lei. Dê a cara a tapa quem pode e tem juízo.
outubro 28, 2008 às 9:51 pm
Fábio
Confesso que num tô muito a fim de falar sobre direito autoral. Prefiro comentar a postagem abaixo:
Aqui no Brasil já é um desafio fazer com que nego jogue o lixo em uma lata e não no chão. Que dirá reciclar ou reaproveitar algo.
Coleta seletiva, então, só vai funcionar se fizerem uma lei proibindo. Aí, sim.
outubro 29, 2008 às 8:52 am
janaina amado
Branco: acho que o direito autoral clássico, como vigora ainda nas nossas leis (leis são sempre as últimas a mudar), já era. Devidamente derrubado pela internet e outras cositas mais. Concordo, assim, inteiramente com você. Esse tipo de direito autoral é uma criação do Renascimento, quando, devido à formidável explosão das artes e do mercado de arte, os artistas passaram a assinar suas obras e a ser reconhecidos como artistas, não mais artesãos anônimos, como na Idade Média. Neste séc. XXI, outras formas de autoria estão se construindo, mais compartilhadas, reapropriadas, divulgadas por muitos meios, talvez a autoria significando muito mais o reconhecimento do autor, do artista, como criador, do que o reconhecimento de uma propriedade privada inviolável. Quem ainda não percebeu isso, é mulher do padre. Acho que a massa da ótima Biscoito Fino desta vez desandou. Ótimo post.
E chega de blá-blá-blá.
outubro 29, 2008 às 9:21 am
gugala
o autor do direito autoral usou Crtl-v?
outubro 29, 2008 às 3:50 pm
Ordisi Raluz
Se todos fossem iguais a você…o mundo editorial receberia um bom alento.
Abraços bem impressos.’
outubro 29, 2008 às 8:46 pm
Fulano
Branco, meu caro, quem é o coitado do Fulano pra desafiar a gravadora? Nem me passa isso pela cabeça, ao contrário. Muitas postagens são feitas a pedido do artista. Outros, assim, assim… meio sem perguntar se pode ou não, a gente vai postando. Se o “dono” se sentir prejudicado, a gente imediatamente retira, sem questionar, já fiz isso dezenas de vezes. O ofendido pede e eu retiro.
No caso em questão, houve um e-mail em que se “exigia” a retirada das postagens, sob ameaça de integridade do blog. Retirei todas as postagens e, mesmo assim, a ameaça se concretizou, exatamente como ocorreu com o Som Barato.
A gravadora disse a um jornal carioca que enviou apenas um e-mail a um blog. Mentira. Sei de pelo menos três.
Um esclarecimento para quem acha que eu ganho dinheiro: nem um centavo. Ao contrário, eu coloco algum.
Um grande abraço e parabéns pela brilhante postagem.
outubro 30, 2008 às 12:50 am
leo seabra
Tem que ser muito retardado pra remar contra maré nos tempos de hoje, a pirataria salvou e salva muita gente. Quem soube tirar proveito dela se deu bem. Até grifes italianas conseguiram uma penetração maior no mercado depois da “divulgação” promovida pela pirataria.
outubro 30, 2008 às 9:06 am
gugala
Lembrei desta que é bunitinha:
A Voz do Dono e o Dono da Voz
Chico Buarque
Composição: Chico Buarque
Até quem sabe a voz do dono
Gostava do dono da voz
Casal igual a nós, de entrega e de abandono
De guerra e paz, contras e prós
Fizeram bodas de acetato – de fato
Assim como os nossos avós
O dono prensa a voz, a voz resulta um prato
Que gira para todos nós
O dono andava com outras doses
A voz era de um dono só
Deus deu ao dono os dentes
Deus deu ao dono as nozes
Às vozes Deus só deu seu dó
Porém a voz ficou cansada após
Cem anos fazendo a santa
Sonhou se desatar de tantos nós
Nas cordas de outra garganta
A louca escorregava nos lençóis
Chegou a sonhar amantes
E, rouca, regalar os seus bemóis
Em troca de alguns brilhantes
Enfim a voz firmou contrato
E foi morar com novo algoz
Queria se prensar, queria ser um prato
Girar e se esquecer, veloz
Foi revelada na assembléia – atéia
Aquela situação atroz
A voz foi infiel, trocando de traquéia
E o dono foi perdendo a voz
E o dono foi perdendo a linha – que tinha
E foi perdendo a luz e além
E disse: minha voz, se vós não sereis minha
Vós não sereis de mais ninguém
outubro 30, 2008 às 12:03 pm
Daniel Brazil
Escrevi sobre o assunto na Revista Música Brasileira, e fiz questão de te citar, Branco. Sintonia total de pensamento! E nem falamos sobre isso no churrasquinho de domingo…
http://www.revistamusicabrasileira.com.br
outubro 30, 2008 às 7:02 pm
Patrícia Carvoeiro
Que post ducaralho, Branco. Ainda vou ver tudo isso cair por terra, junto com a obrigatoriedade do diploma pra jornalista. O Helder da Rocha – não sei se você o conhece pessoalmente ou ao menos o lê/lia – falou algo parecido tempos atrás (sobre plágio), você chegou a ler?
Tá aqui, ó: http://www.helderdarocha.com.br/blog/2007/12/o-que-um-plgio.html
novembro 1, 2008 às 8:54 am
fernando cals
Oi, Branco,
Perfeito o post!
Enquanto a primazia da burrice bem arrumada valer, estaremos sujeito a coisas desse tipo. Nem estou, como vc também se posicionou(ops!) contra o Biscoito Fino. Mas acredito que eles, do BF, estão sendo burros quando tomam posições como essa.
Também sou usuário total do Um Que Tenha e fico indignado quando medidas, idiotas e fora de propósito como vc bem destaca, são propostas.
No momento, mais ainda do que com músicas, baixo, quase compulsivamente, filmes e mais filmes, principalmente alguns das “antigas” e fixo a pensar quando eles, os mesmos, irão propor medidas restritivas para isso. Ou quando poderemos lançar a bomba de matar idiotas (eu quero estar longe, rsrsrsr) pra ver se as coisas melhoram.
abração
fernando cals
novembro 1, 2008 às 7:15 pm
geber
Incrível, que quando encontrei o cd que acompanha o livro Timoneiro copiei e ouvi, imediatamente comprei o livro e adorei. Assim vem acontecendo com alguns artistas que não conheço tenho o mesmo procedimento anterior, se gosto eu compro. Gosto das capas/encartes. Não considero pirataria e sim uma oportuninade de se fazer ( o artista)conhecer e ser reconhecido pelo público que passsam a freqüentar os shows comprando cd original com direito a autógrafo dos artistas.
Abraços/Beijos no coração,
Geber
novembro 1, 2008 às 10:38 pm
mario
um simples pedido à Biscoito Fino: pelo amor de Deus,não sejam injustos com quem divulga sem ganhar um único centavo tendo um trabalho fdp para divulgar músicas que sem esse trabalho nunca chegariam aos ouvidos de sei lá quantos apaixonados pela magia da música, o trabalho feito pelo sensacional umquetenha não tem biscoito fino que pague, conheço a estória da biscoito fino através deste site que divulga, não vende, que incentiva a venda nos sites oficias e foi assim que depois de baixar e me apaixonar por vários trabalhos, comprei no site oficial. querer fazer o umquetenha sair do ar me parece um tiro no coração, fazer morrer o divulgador dos trabalhos que não tem mídia nacional mas tem valor inestimável para a vida de apaixonados pela música Brasileira. a insensatez não pode vencer a razão, mesmo que a lei esteja do lado errado, somos simples humanos para reconhecer que é tempo de renovar as leis e seguir em frente com a nossa evolução. divulgar não pode ser considerado crime e sim aliado do compositor, que é o maior interessado na venda do seu trabalho. enfim, salvem o umquetenha, um grande divulgador da nossa música. finalizando, onde assino o abaixo assinado pra fazer leis atuais que mostrem o verdadeiro valor da era da divulagação da cultura, mesmo que musical. salvem o umquetenha!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ou, morra biscoito fino, e passemos a comprar do concorrente que aqui não vêm ao caso.
novembro 1, 2008 às 11:09 pm
Priscila
“Quase dois séculos de implantação da Lei do Direito Autoral precisam ser revistos mais uma vez. Aconteceu muita coisa nesse meio tempo”
Meu caro, você tem razão. A lei realmente precisa ser revista, mas não pelos motivos que você apresenta aqui no seu blog. Quem estuda este assunto, sabe o quão importante é a proteção ao autor. Há interesses privado e, pasme, público também. Interesse público porque a proteção pode servir à sociedade, no sentido de os esforços individuais estarem ao menos tentando achar outros meios e “objetos” para criarem obras que sejam melhores que a que está protegida e que tragam lucro, obviamente. E aí há um desenvolvimento para o país, seja cultural ou o que for.
Quanto à falta de controle em e-mails, milhares de blogs, e-mule, etc, etc, etc, não é por causa disso que devemos deixar de ter lei. Se assim fosse, digo que muita lei básica e fundamental teria de ser extinguida. Não é porque todo mundo faz o errado(proibido) que o errado tenha de ser permitido.
Veja, o problema não está na lei. O problema está nas gravadoras, que deveriam acioná-las quando necessário, ou seja, quando o artista for realmente prejudicado.
Mesmo que infrinja a lei, EU não tenho dúvidas de que seja melhor para o artista a divulgação; já as gravadoras…
Um abraço,
novembro 2, 2008 às 10:29 am
Dois textos brilhantes sobre os direitos autorais e a música « Abrigo na Net - Marcelo Donati
[…] primeiro é do escritor Branco Leone, chamado Direito autoral é do autor? O segundo, que visa complementar as idéias do primeiro, chama-se Gravadoras X Internet, e é de […]
novembro 2, 2008 às 10:50 am
Raul
Excelente post!
Faz tempo que sou viciado em Som barato e Um que tenha.
Assim consegui conhecer coisas que não são possível achar hoje em dia.
Também baixe CDs novos… escutei e aqueles que gostei… procurei e comprei (ainda acredito que o musico deve receber algo por seu trabalho)
Se pudesse pagava directamente para eles, os músicos, produtores mas nadinha para os sanguessuga
abraço
novembro 2, 2008 às 10:57 am
Marcelo Donati
Parabéns pelo texto e pela coragem. Sites como o Um Que Tenha e o Loronix são patromônios da cultura brasileira, deveriam ser estimulados e não censurados. Falando em idéias de direito autoral, o Ed Motta (assim como outros vários artistas) lançou pela Trama seu último álbum, através de um sistema onde o patrocinador banca o download do CD, e o artista ganha por download. Isto funciona mais ou menos como uma rádio, que toca as músicas de graça (qdo não há jabá), mas que vive das propagandas e patrocínios. Este é o futuro e não tem como negá-lo!
novembro 2, 2008 às 9:01 pm
Direito autoral é do autor? | Forró em Vinil
[…] no coração, em prol da Liberdade. Trecho final de um texto de Branco Leone, veja o texto na íntegra) (No Ratings Yet) Loading […]
novembro 2, 2008 às 11:30 pm
Sérgio
Biiscoito Fino….coitada…eles vão quebrar por causa do downloads do UQT…tadinha….
novembro 3, 2008 às 9:12 am
Carlos De Paula
Vida longa ao Um que tenha!!!…
A industria fonográfica com sua visão míope e curta não quer “largar o osso”…
Não perceberam ainda que cada blog que eles fazem desaparecer, outros 1.000 tomarão o seu lugar…E que o caminho de décadas explorando músicos, compositores foi bravamente aberto por blogs como este…Que difundem mundialmente a cultura sem ter qualquer interesse senão o de contribuir para que cada vez mais pessoas tenham acesso à verdadeira e tantas vezes pisoteada (pela própria indústria fonográfica) música brasileira…
Eu particularmente só posso dizer : Muito obrigado, Um que tenha!!! Independente do que venha acontecer, eles cumpriram muito bem o papel para que este caminho realmente não tenha nunca uma volta!!!
Carlos De Paula
novembro 3, 2008 às 12:04 pm
Angela Annunciato (Jam)
Branco, como sempre, parabéns, por mais suspeito que isso pareça vindo de uma fã. Já cansei de comprar cds que conheci no UQT, e que jamais conheceria se não fosse o execelente trabalho de divulgação feito pelo blog. Para os interessados no assunto, a revista Superinteressante publicou uma entrevista bem legal com um economista inglês. O título da matéria: “Pirataria para salvar o capitalismo”. Está na Super deste mês (com a capa sobre ansieade) e eu indico como leitura obrigtória para o pessoal da Biscoito Fino…
novembro 3, 2008 às 12:46 pm
Marcelo
Branco, é o seguinte: esse debate sobre a pirataria está completamente contaminado pela ideologia, daí a impossibilidade de se discutir seriamente o assunto.
Vc por exemplo, que demonstra ser uma pessoa inteligente, usa pelo menos duas falácias no seu texto, que seriam no mínimo questionadas se o assunto fosse outro. Vc coloca opiniões como fatos, o que seria inaceitável sem esse filtro ideológico que se interpõe entre a realidade e a discussão da pirataria.
Vamos a elas: vc diz algo como “(quem defende) a Lei do Direito Autoral (são os) ‘artistas’ fabricados e os megainvestidores por trás deles”. Falácia, porque eu duvido que vc tenha feito uma pesquisa exaustiva, entrevistando todos os defensores dessa Lei e provando empiricamente que todos são ou artistas fabricados ou megainvestidores, seja lá o que vc queira dizer com este último termo. Recentemente, ouvi uma palestra do grande compositor brasileiro Ronaldo Bastos, que é combativamente a favor da proteção ao direito autoral. E tenho dificuldade em percebê-lo como “artista fabricado”, a não ser através do dano mental que o delírio ideológico causa em pessoas normalmente inteligentes.
Outra falácia é essa de que não se precisa mais do grande capital para distribuir e divulgar trabalhos artísticos. Quanto a isso não preciso me alongar, basta perguntarem pra qualquer artista independente se é a coisa mais fácil do mundo divulgar o seu trabalho sem investimento nenhum. O que leva, aliás, a outra das minhas falácias pró-pirataria preferidas, que surpreendemente ainda não apareceu nos comentários: de que a música tem que ser pirateada mesmo, que artista ganha dinheiro de verdade é com shows. Artista só ganha dinheiro com shows quando existe divulgação suficiente para que as pessoas saibam que o artista existe, e saibam que ele vai estar tocando na cidade. Divulgação pela Internet? Ridículo. Primeiro porque é uma parcela ínfima da população que tem acesso à rede, e segundo porque, no oceano de informação não-filtrada que existe nela, é muito difícil que a sua divulgação chegue efetivamente ao público-alvo pretendido.
Obviamente não estou tentando dizer que a melhor situação do mundo é a de artistas trabalhando pra receber só 10% do que produziram, com o resto indo pra capitalistas insensíveis. Mas não custa lembrar que foi esse o arranjo que produziu a música que vcs estão aí baixando, hoje em dia.
Essa é a minha principal bronca contra a pirataria: ela não é necessária. Hoje em dia, tem milhares e milhares de artistas produzindo, gravando e disponibilizando as suas músicas TOTALMENTE DE GRAÇA na rede. Então por que não baixar esse conteúdo, 100% legal, disponibilizado pelo próprio artista? De onde vem essa “obrigação” de ignorar o Zé das Couves, que dá a sua música de graça, e piratear histericamente o Chico Buarque ou o Caetano Veloso ou qualquer outro artista comercial?
Tomem vergonha na cara. Parem de piratear. Baixem a música de quem já disponibiliza de graça, 100% dentro da lei.
O único problema é que a música do Zé das Couves vcs não querem baixar, né? O arroz com feijão e bife tá disponível de graça na hora que vcs quiserem, mas diante da tolerância com o crime, vcs preferem roubar o caviar. E aí, meus amigos, vcs que se acham a vanguarda da sociedade, que detonam a Biscoito Fino pelo pensamento “retrógrado”, na verdade são vcs que estão caindo no comportamento mais primitivo e retrógrado do ser humano: ceder à tendência de se dar bem a qualquer custo, o nosso bom e velho jeitinho brasileiro, mesmo que prejudicando outras pessoas (e, como eu acabei de demonstrar, sem a menor necessidade de prejudicar ninguém: bastaria baixar a música de quem a disponibiliza de graça por iniciativa própria).
O que vcs, advogados da pirataria, estão fazendo é o mesmo que os políticos corruptos fazem: estão se justificando. Têm nas mãos a possibilidade de fazer a coisa certa, mas fazem a coisa errada e depois se justificam. Não tem nada de “moderno” nisso.
novembro 4, 2008 às 7:00 pm
Daniel Brazil
Marcelo, você começou bem, mas foi subindo o tom de voz e passou do ponto. Quem disse que nós desprezamos as novidades, cara-pálida? Basta espiar o Um Que Tenha com alguma atenção para ver a quantidade de chamadas para shows e downloads de artistas novos e independentes.
A partir de uma suposição sem provas, passou a chamar os blogueiros de “advogados da pirataria” e comparou a políticos corruptos. Ora, ora..
Já que você apontou “falácias”, não seria bom deixar claro que o Ronaldo Bastos é dono do selo Dubas, portanto também empresário do ramo fonográfico? Esconder informação é coisa de “político corrupto”, meu caro!
novembro 6, 2008 às 9:02 am
O direito autoral ainda vai virar de pernas para o ar. Esqueça: já virou — QueroTerUmBlog.com!
[…] Branco Leone escreveu um artigo sobre direitos autorais. Quase dois séculos de implantação da Lei do Direito Autoral (no Brasil, mas em outros países […]
novembro 7, 2008 às 1:37 pm
Marcelo
Daniel, não foi minha intenção “esconder” que o Ronaldo é dono do Dubas. Só pra lembrar, eu o citei como exemplo de que nem todo defensor do direito autoral é “megainvestidor” ou “artista fabricado”.
Mas foi bom vc ter adicionado essa informação, porque isso motiva até outras ramificações desta discussão. Por exemplo, por que a esquerda histérica insiste em ver um empresário sério e comprometido com o desenvolvimento da música e da cultura brasileira, como o Ronaldo (e, certamente, como os donos da Biscoito Fino) como se ele fosse o mesmo tipo de gente que esses marketeiros imbecis que atualmente dirigem as grandes gravadoras no país? A diferença pra mim é óbvia. Mas quando o que se quer é o direito de roubar música sem ser importunado, esses detalhes se perdem rapidinho.
O Um Que Tenha divulga artistas novos e independentes? Ótimo, então vou insistir no que disse antes: baixe o material legalmente disponibilizado por esses artistas, e não infrinja a lei baixando material que não foi legalmente disponibilizado. Qual é a dificuldade nisso? Tem muito mais coisa pra ser baixada legalmente do que ilegalmente na Internet, então por que cargas d’água vcs têm que baixar o ilegal? Se vc puder me explicar por que as pessoas insistem em infringir a lei, quando é muito mais fácil obedecer a lei (sem nem entrar nas questões de moralidade), sou todo ouvidos.
novembro 7, 2008 às 10:34 pm
Daniel Brazil
Marcelo, a adjetivação que você usa parece bastante deslocada nessa discussão. “Esquerda histérica”? De onde você tirou isso? Pirataria – onde existe – é praticada por indivíduos inescrupulosos, visando lucro fácil e reprodução em escala, coisa muito mais identificada com a mentalidade liberal-predadora do capitalismo, não acha? Ou você acha que quem copiou e vendeu milhares de cópias do filme Tropa de Elite foram esquerdistas subversivos? Não me faça rir…
Não preciso te explicar nada, meu caro. As leis não são eternas. As sociedades evoluem, os modos de produção se diversificam, e o controle da produção cultural, depois do advento da internet, é um dos setores onde isso mais tem caminhado para transformações radicais. Você deve conhecer o Creative Commons, por exemplo. Também deve ter ouvido falar que diversos artistas estão disponibilizando seus trabalhos na rede simultaneamente ao lançamento pelas gravadoras.
Mas vou dar duas dicas de porque as pessoas “infringem a lei”: uma, o preço obsceno do CD. Outra, o amor pela música. Ah, o que não se faz por amor…
novembro 9, 2008 às 4:02 am
Fernando Bastos
éééé…
eu queria escrever alguma coisa inteligente sobre o assunto mas não tenho capacidade para tanto… hehehehe
Brancão, o que achei legal é vc ser citado em um blog que acho muito interessante (umquetenha) que freqüento a algum tempo.
É engraçado qdo alguém fala de alguém que vc conhece!!
Abraço cara!
novembro 10, 2008 às 12:23 am
Marcelo
Daniel, cheguei a pensar em escrever uma resposta ponto por ponto para o que vc escreveu, mas é inútil. Vc só vai continuar a desviar o foco da discussão, como já está fazendo.
Mas se vc pode insistir em fugir do assunto, eu posso insistir em voltar a ele: se o preço do CD do Caetano Veloso tá muito alto, não compre. Esqueça que o Caetano existe e compre o CD do Zé das Couves, que custa R$10. Se ainda tá caro, baixe as músicas do João das Beterrabas, que ele disponibilizou de graça e legalmente.
Eu tb tenho amor pela arquitetura, e acho que imóveis custam muito caro. Então eu posso ir aí tirar vc a sua família da sua casa, e ficar com ela pra mim? Vc sabe que os seus argumentos não são argumentos, brother. Sabe que são desculpas esfarrapadas pra justificar o injustificável. E vc parece ser um cara inteligente. Por que insiste nessa conversa fiada, então? Confesso que é incompreensível, e desanimador tb. A não ser que se leve a sério certas teorias preconceituosas sobre o Brasil e os brasileiros, aí muita coisa começa a fazer sentido.
novembro 13, 2008 às 1:46 am
Daniel Brazil
Marcelo, você está raciocinando apenas em termos de mercadoria, de compra e venda, e a discussão eu creio que é outra.
Antes de tudo, admita que as leis e costumes sobre a propriedade mudam. Senão, você ainda estaria defendendo a escravatura, certo?
Segundo, há um movimento mundial de relativização dos chamados “direitos autorais”, principalmente na música. Não por acaso (mas por muita influência de milhões de blogueiros e trocadores de música), a MTV anunciou esta semana que vai disponibilizar todo o seu acervo de clipes no You Tube, para livre acesso. É um sintoma de algo muito maior, e que está em movimento irreversível.
De fato, eu não compro o CD do Caetano, está muito caro. Devo me submeter à lei do mercado, me privando de ouvir, conhecer, saber do que se trata? Abaixar a cabeça e dizer “sim, sinhô, isso é só pra quem pode, não pra quem quer”?
Você defende esta postura, amparado na manutenção do status quo. Eu defendo uma ação libertária, mais rebelde, sabendo que será seguida por poucos (você deve saber disso também), que não abalará o sistema de um dia para o outro, e que vai democratizar muito mais a cultura e a arte para todos, e não só para uma elite.
E não aidanta invocar “teorias preconceituosas sobre o Brasil”, porque este movimento é mundial, movido pela www e, principalmente, pelos jovens. Aliás, o Brasil está atrasado porque muito garoto que gosta de música não tem computador…
Ah, e não compare uma música com uma casa, por favor. Estamos discutindo bens culturais, imateriais, cujo uso por um ou por mil não desgasta ou desvaloriza, muito pelo contrário. Ninguém “tira” uma música de alguém, não seja ingênuo.
Mesmo assim, se você quiser “copiar” a minha casa, fique à vontade!
novembro 15, 2008 às 7:09 pm
Marcelo
Daniel, vai me desculpar, mas vc continua só despejando falácia em cima de falácia.
Começando pelo final: eu não preciso “copiar” a sua casa pra incorrer em crime contra o seu direito de propriedade; basta eu vender ou alugar a casa sem a sua permissão, ou então tacar fogo nela sem a sua permissão. É essa a infração fundamental da pirataria: roubar do proprietário o seu direito único e exclusivo de dispor da sua propriedade da forma que quiser.
No caso da música, a cópia não-autorizada tb é crime, obviamente. Mas o fato de a tecnologia ter permitido que as pessoas cometam esse crime sem serem pegas não faz com que ele automaticamente deixe de ser crime. Se fosse assim, qualquer coisa que resulte na generalização de um crime poderia ser elencada como razão pra se descriminalizá-lo, tipo “o inchaço das cidades leva a um aumento descontrolado do número de assassinatos, então por isso a gente tem que legalizar o homicídio”. Não preciso demonstrar o absurdo desse raciocício.
“Devo me submeter à lei do mercado”?? Ora, vc deve se submeter à lei, ponto final. Ou tem alguma coisa que te faça superespecial, melhor do que nós meros mortais, a ponto de vc não precisar obedecer as leis que todos nós temos que obedecer? Esse é o fundamento do “jeitinho brasileiro”, da “lei de Gérson” e de outros eufemismos que a gente inventa pra legitimar a corrupção dentro da nossa cultura. Não me surpreende que o mesmo pensamento esteja por trás do culto à pirataria que vcs gostam de promover.
Não sou especialista em história do direito, mas as leis e costumes sobre a propriedade não mudam a torto e a direito, não senhor. Aliás, o mínimo atrito no que se refere à propriedade tende a gerar conflitos bem desproporcionais a esse atrito.
No caso da escravidão, primeiro eu preciso ressaltar a infâmia de vc querer comparar um caso claro de violação de direitos humanos com esse direito de assalto à propriedade que vc quer ver legalizado. Segundo, não é um exemplo de “mudança na lei da propriedade”. O que mudou com uma Lei Áurea, por exemplo, foi o status dos escravos, “elevados” à condição de ser humano. Nunca foi legal ter um ser humano como propriedade; fosse assim, no Brasil colônia, portugueses teriam escravizado portugueses e homens teriam escravizado mulheres (sem entrar no mérito de condições semelhantes à escravidão, que existem até hoje; estou falando da escravidão oficial). O que tornava legal a compra e venda de africanos era a certeza, sancionada até pela Igreja Católica, de que africano não era gente – a mesma justificativa pela qual até hoje é legal comprar, “escravizar” e vender cavalos ou cachorros.
Eu não estou raciocinando em termos de mercadoria, estou raciocinando em termos de propriedade. Assim como vc, aliás. A diferença é que vc está procurando argumentos para justificar a destruição específica da propriedade intelectual, enquanto que eu a estou defendendo. Quanto a isso, é bem óbvio que nós não vamos concordar nunca, e ainda bem. Num mundo sem propriedade intelectual, de comunização forçada da “inovação”, isso só incentivaria a preguiça mental e a gente provavelmente não teria chegado nem à cura da gripe ainda, quanto mais à era da Internet. Se chegarmos a esse ponto, eu pelo menos vou ter a consciência tranqüila de que não contribuí para essa involução da humanidade.
Finalmente, as mudanças na lei não são necessariamente para o bem. A Lei Áurea foi; um AI-5, por exemplo, não foi.
Entenda, eu não sou um tecnófobo defensor do status quo, muito pelo contrário aliás. O que eu quero não é uma altamente improvável (pra não dizer impossível) desativação dos mecanismos tecnológicos que permitem tanto o download ilegal quanto o legal. Só o que eu quero é que as pessoas se conscientizem e, voluntariamente, sem imposição nenhuma, decidam por fazer só o download legal. Tira os seus óculos ideológicos por um minuto, e me responde: o que tem de defesa do status quo nisso?
O que tem de errado em as pessoas abrirem mão de adotar um comportamento anti-ético ou imoral, ainda que fique determinado que esse comportamento não é criminoso? Não é justamente disso que o Brasil está precisando? Que as pessoas optem por pautar o seu comportamento pela ética e pela moralidade, antes mesmo e independentemente de ter uma lei que as obrigue a isso?
Pra terminar, uma matéria do Estadão em que OS PRÓPRIOS BLOGUEIROS fazem a ressalva de que essa disponibilização de material deveria se manter dentro de certos limites éticos (não disponibilizar material que pode ser facilmente encontrado na forma de CD, etc): http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20081114/not_imp277593,0.php
novembro 17, 2008 às 1:43 pm
Daniel Brazil
Marcelo, vou parar por aqui. Aliás, parece que os seus são “argumentos”, os meus são “falácia”. Então, tá. Cada exemplo real que citei, e que estão transformando a relação música-mercado, você simplesmente ignorou. Enquanto você insistir em colocar as coisas nesse desnível, não dá pra discutir com inteligência. Em suma, essa não é uma forma ética de discutir, sinto muito.
Quando eu falei de “copiar” minha casa, quis dizer exatamente isso: Que alguém fazer uma cópia dela não me traz prejuízo algum. Só um idiota compararia isso a invadir ou atear fogo como se fosse a mesma coisa. Mas esse é o teu “argumento”, que posso fazer? Você deve achar que copiar uma música ou destruir a matriz da gravação original devem se equivaler…
Suponho que você saiba o que significa “status quo”, estado de coisas. Nesse caso (direito autoral X downloads gratuitos), você o está defendendo, e eu atacando, notou? Quando tirar seus “óculos ideológicos” do nariz, enxergará claramente o que escrevi.
Quanto à matéria do Estadão, está linkada no último post do Branco. Fiz questão de postar nos comentários, há três dias, para ampliar a discussão. Diz o óbvio: que todos defendem certos limites éticos. Até aí, morreu o Neves… Quais limites? É o X da questão.
Obrigado pelo espaço, Branco!
dezembro 4, 2008 às 2:46 pm
Linkblog Pensar Enlouquece, Pense Nisso.
Leituras recomendadas…
Direito autoral é do autor?, em Branco Leone.
O que os 6 meses de São Paulo me ensinaram, em Eu Gosto de uma Coisa Errada.
E essa Terra parece que não anda, em Escreva Lola Escreva.
O André Forastieri que não deu certo, em André Forastie…
dezembro 13, 2008 às 2:15 am
Camila
“baixe o material legalmente disponibilizado por esses artistas, e não infrinja a lei baixando material que não foi legalmente disponibilizado. Qual é a dificuldade nisso?”
A dificuldade nisso é basicamente o fato de eu não ser possuidora de poderes de adivinhação. Como seria possível eu, no norte do país, tomar conhecimento de um trabalho independente lançado em MG?
Ora, cito aqui o exemplo da cantora Mariana Nunes à qual tive acesso por meio do UQT. Como seria possível Mariana se fazer chegar ao norte do país, como efetivamente chegou, sem o auxílio do UQT? Como poderia eu baixar o material legalmente disponibilizado sem se quer saber da existência do artista?
Antes que eu me esqueça: Adoro descobrir novos Zés das couves e UQT muito me auxilia nesta descoberta!
março 11, 2010 às 10:38 pm
bOssas nOvas
Só agora vi esta mensagem, mas o assunto continua atualíssimo.
Um dia virá em que blog’s como o umquetenha, loronix, toquemusical, vinylmaniac (só para citar alguns dos meus preferidos, embora existam muitos mais de muito boa qualidade) terão a sua importância reconhecida. Quando há cerca de cinco anos li o livro “Chega de Saudade” de Ruy Castro, conhecia cerca de 1% dos músicos e discos aí citados. Pouco depois li outro livro sobre o movimento tropicália (cujo autor nao me recordo) e fiquei com a mesma sensação. Como ouviria alguma vez todas aquelas referências, se não fosse através do trabalho desses tantos blogueiros. Piratas? Mas esses não ficavam com o dinheiro alheio? Como podem ser chamados de piratas se são eles os primeiros a pagarem do seu bolso as contas que lhes permitem arquivar os discos on-line (por tempo limitado, o que equivale a dizer que de vez em quando têm que ir renovando os links, e assim pagar mais…).
Disponibilização gratuita e livre de cultura é o que aqui acontece. Como de outro modo ouvir gravações perdidas para sempre ou na mão de meia dúzia de pessoas, como as gravações de João Gilberto na casa de Chico Pereira ou o Encontro no Bon Gourmet, onde foram estreadas músicas como Garota de Ipanema, tocadas por Jobim em pessoa, Vinicius, João Gilberto, Os Cariocas e Milton Banana? Como ouvir um disco gravado há quarenta anos, esgotado há outros tantos e nunca reeditado em cd? Se as editoras são estúpidas ao ponto de não perceberem o dinheiro que podiam ganhar reeditando obras imortais, quem são elas para depois dizer que outras pessoas mais inteligentes não as podem disponibilizar livremente? Para não falar nas trapaças que fazem as editoras quando reeditam obras esgotadas mas mudando-lhe a capa, a ordem das faixas, ou até mesmo sem incluirem uma ou mais músicas… E para quê, senão para enganarem aquele que vai comprar???
Dou os meus profundos parabéns a todos esses blogueiros corajosos por não terem medo das editoras e sem outro interesse que não seja o da livre partilha, totalmente coerente com a sociedade realmente aberta e democrática que pode ser criada na internet.
E sempre que se fala neste assunto ninguém pergunta: piratas maiores não serão os donos dos sebos de discos??? Só para dar um exemplo: um ou dois discos fora de catálogo podem custar num sebo mais que uma conta trimestral no rapidshare, conta essa que permite (para quem nao tiver mais nada que fazer durante esses 3 meses) baixar cerca de 30.000 discos fora de catálogo (mais ou menos, dependendo do tamanho dos arquivos). Não entendo muito bem a situação no Brasil, mas na Espanha (onde vivo), é proibido fazer uploads de obras com direitos de autor protegidos, mas não é proibido fazer downloads, pelo que aqui é uma falácia falar de “downloads ilegais”. Assim sendo, prefiro poupar os meus trocos e comprar uma conta no rapidshare. Sei que nenhum tostão vai parar ao autor, mas igualmente o dono do sebo não ia pagar nada à editora ou ao autor… Isto para não falar nos casos que o autor está morto…
A todos os blogueiros musicais quero dizer que continuem com o vosso trabalho de embaixadores culturais. Um grande OBRIGADO a todos.